segunda-feira, janeiro 23, 2006

Insónia

Está calor…
Afasto as roupas de cima do meu corpo, destapo-O também, um murmúrio, um estremecer, sinto a companhia do Seu acordar. Mas o corpo imobiliza-se no canto da cama, a respiração estabiliza, e os sonhos voltam a Ele.
Sento-me, a cabeça pende para trás, e um ruído de tédio escapa-se do fundo do meu egoísmo. Olho para aquela sombra enroscada ao meu lado, as costas nuas e quentes desprezam a minha insónia.
Levanto-me e vou até à janela, esta range quando a abro sem cuidado, o frio húmido da noite choca com a minha pele quente, o chão gelado por baixo dos meus pés, o toque metálico do caixilho…sinto a incontornável certeza da minha presença ali naquele momento, onde não quero estar, onde não quero ser.
O frio empurra-me de novo para a cama, quase anseio pelo quente das pernas Dele, aquecer-me Nele, adormecer Nele…Mas o momento seguinte apaga esse conforto, não quero dormir, não quero ficar, quero falar, gritar, chorar, amar…não quero ficar quieta.
Sento-me de novo, mas desta vez com brusquidão propositada, o colchão resmunga preguiçosamente, mas Dele não sai um só som. Sem pudor chamo-O…sem resposta…talvez não me ouça enrolado no Seu sono perfeito. Deito-me e olho o tecto, não tento mais quebrar esse encantamento…neste momento Ele não é meu, e eu estou só.

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