sexta-feira, fevereiro 09, 2007

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Geralmente existe uma menina muito pobre, que vive uma vida muito madrasta e nesse quotidiano sonha pelo amor verdadeiro, depois a história narra algumas das aberrações que a rica menina pobre experiencia até que num precalço do destino perde-se de amores por um príncepe encantado do qual não sabe a sua verdadeira identidade. Qual não é o nosso espanto, nos olhos das crianças que fomos, esse amor é correspondido num piscar de olhos. A história então continua, de capítulo em capítulo, com encontros e desencontros de um verdadeiro estranho e arrebatador amor. Finalmente a Fada Madrinha sempre ausente e distraída acorda com as já milhares de lágrimas derramadas pela menina, que na verdade sempre teve sangue azul a correr nas veias, lhe dá um empurrãozinho para a chamada felicidade. Assim ela alcança os sonhos que tanto lhe molharam a almofada, o amor que ela alcançou junto do seu príncepe arrebatou o coração daqueles que a rodeiam, é tempo de perdão e arrependimento. E assim eles foram felizes para sempre! (Ponto final, parágrafo)

Em Lisboa, nos dias de hoje e também nos de ontem, o Pedro e o Francisco estão na mesma discoteca, a mesma tem duas pistas, um em cada uma caçando as presas que ainda lhes caem nas mãos, passam um pelo outro e cumprimentam-se como dois amigos comuns que se encontraram ali por mero acaso.
Na verdade eles vivem uma relação de quatro anos sensivelmente, a chamada relação aberta.
Continuando a narração, os dois beijam, fodem o que bem entendem e o que quiserem, afinal, vivem uma união de companheirismo em que cada um vive a sua realidade sexual e afectiva, lá vez a vez juntam seus pares para uma sessãozeca de hardcor, e terminam os dois na cama com um beijo de boas noites na posição fetal. Dizem que vão ser felizes para sempre! (Ponto de exclamação)

Perto do Porto, não sei precisar o momento de tempo mas dura até hoje, uma jovem mulher intelegente, um rapaz que teima em não largar as borbulhas vivem um jogo de espelhos daqueles da extinta feira popular. Ela declarou-lhe o seu amor, ele voltou-se e desculpou-se com a namorada para quem se recolheu como porto de abrigo. Ela ainda sonha com ele na almofada e fora dela. As acções dela não lhe são indiferentes a ele, ele continua lá à espreita, como na savana o predador ainda não tem fome mas quer guardar a presa e digerir a que ainda tem no estômago. (Vírgula)

De volta a Lisboa, fomos de Alfa-Pendular e já voltamos, a Mar e o Alexandre estão a tomar café na Baixa, depois de muitas semanas de ausência dele mas de presença de sms a declarar o seu imenso amor. Ela está desconfiada, ele insiste a dizer que não é casado, mostra-lhe o B.I., mostra que não tem marca de aliança no dedo, demonstra mais uma vez o seu amor a dizer que não se esquece dela porque ainda tem a sua fotografia na carteira. Eles vão embora do café, ele cavalheiro paga a despesa, partem para a cama dela. Ela leva-o até ao carro e tira-lhe a matricula. Afinal o carro dele está em nome de uma mulher ... (Ponto de Interrogação)

Há uns anos atrás, numa cidade qualquer, o Ricardo e o José vivem uma relação bonita de três anos. Mais uma ida ao cinema, um café e o Ricardo leva o namorado a casa prometendo-lhe que assim que também chegasse ligava a desejar bons sonhos. E assim era, mas depois desligava e recebia outros e outras que lhe desejavam pessoalmente bons sonhos. (Ponto final)

A Ana é casada há cinco anos com o Pedro, conheceram-se na escola, prosseguiram o namoro na faculdade, casaram e pensaram que seriam felizes para sempre. O Pedro confortavelmente acredita no amor de Ana, ela sente-se cansada com vontade de viver aquilo que o seu amor a Pedro não deixou. Ela conhece a Carla ambas iniciam uma amizade e há uma noite, sempre uma noite, em que tudo o que desejavam transborda do copo para a cama. De seguida fez as malas e deixou um bilhete ao Pedro a dizer que o amou mas agora era a vez de se amar a ela própria. (reticências)

Nascemos de um amor, ou de uma imagem nitida, ou não, dele. Crescemos a transbordar ou com falta dele. Ouvimos, contamos e construímos histórias em que no fundo do poço ele lá está o amor, fazemos tudo isto mesmo sem bem saber que forma tem ele nas nossas mãos, vamos moldando-o como o oleiro com o barro.
Sei que não sabemos tudo o que o amor é, temos direito a nos enganar mas não aos outros ou vice-versa. O amor é ... ficamos gagos ou então disparamos uma resposta tão rápida como a própria sombra.
Geralmente aprendemos nos contos infantis, depois seguimos atentamente os capítulos da novela, embalamos nas sessões de cinema, compramos manuais galardoados com nobel, também compreendemos detalhes nas cusquices de café mas falta sempre a nossa acção consciente ou inconsciente, por isso quem pode atirar a primeira pedra.
Começamos no ponto de exclamação, depois vêm as vírgulas, existem momentos com pontos de interrogação e por vezes colocamos um ponto final mas normalmente sentimos a necessidade das reticências. E haverá o dia que colocamos o ponto final, parágrafo.
Morremos por ele, não morremos sem viver um em grande, afinal o que é amor ...
Tudo ou nada ...

4 comentários:

Anónimo disse...

Talvez seja demasiado pretenso da minha parte achar que te referias a mim.
As borbulhas que restam já me permitem pensar com alguma maturidade.
Gostava de te ajudar a perceber o porquê de achares (erradamente) que "guardo a presa para digerir assim que a outra o seja". Talvez um dia.

Cumprimentos (ponto.)

Anónimo disse...

Meu querido André,
mais uma vez (o que começa a tornar-se um hábito), deixaste-me sem palavras. É, de facto, empresa arrojada tentar pontuar as relações, o amor ou mesmo as amizades, porque há aquelas situações que não têm pontuação possivel.
Li ontem o post, mas acho que só hoje consegui ter a informação digerida para me pronunciar. Acho que te devia contar uma história:
"Algures (Porto ou outra cidade qualquer), uma rapariga ingénua apaixonou-se pelo melhor amigo. E, sublinhando a sua ingenuidade, ela achou que as coisas iam correr bem desta vez. Uma vez que nunca tinham corrido bem. Mas o destino não gosta da originalidade... Decidida a não lhe contar nada, moeu a o que sentia tempos a fio. E entra outra vez o destino a brincar e põe a historia nu... Não podemos obrigar as pessoas a sentir o que não querem.
Mas ela já tinha aprendido a viver com a rejeição, e bastava ve-lo feliz para ela estar bem. Mas as coisas nunca tinham sido como ela queria..."
E nesta história, meu querido André não há virgulas, há um ponto redondamente final.

Ansiosa por mais belas histórias
um grande abraço
Marta

Anónimo disse...

Não acredito em pontos finais... acredito em reticencias eternas que só mudam a sua essência na grande curva do ponto de interrogação!



um texto fantástica André, parabéns!

Pralaya disse...

C conhece C , vivem uma história de amor atribulada e com muitos precalsos e dificuldades. C descobre o mundo e C sente a falta de C mas C volta sempre para C. Até que uma vez é C que decide por um ponto final no que têm com C, apesar de sentir que vai acabar com o que melhor lhe aconteceu desde que C apareceu na sua vida.