segunda-feira, março 05, 2007

Posso fazer greve, se faz favor?

A minha semana passada foi atormentada por essa questão. Penso que nunca fiz um post político neste blog, mas a questão tomou várias proporções que quem me conhece sabe que não deixo nada por dizer, não engulo o tal sapo.
Coloca-se então o cenário, um funcionário do estado, contratado a prazo, tem ou não o direito de fazer greve num país democrático no séc. XXI no decorrente ano de 2007, ano esse que a efemeride do 25 de Abril completa 32 anos.
Hoje em dia, pensa-se que uma greve tem apenas o objectivo de se fazer gazeta ao trabalho, que não existem motivos políticos por trás de tal decisão. Depois quem dá aulas não tem tanto direito assim como os outros funcionários de fazer porque os pais não tem onde deixar os filhos, mas esquecem-se que a greve não tem de ser avisada nem comunicada e se existem organismos que o fazem é por descargo de consciência, por consideração aos utentes dos mesmos serviços, pois a greve serve para parar o curso das coisas, com a intenção de baralhar e incomodar porque infelizmente só assim numa democracia somos ouvidos e fazemos parte do processo de alterar medidas. Chegamos a um ponto interessante da nossa democracia, não perguntamos a legalidade ou não das greves e/ou manifestações mas questionamos o quanto nos transtornam a vida( por exemplo nessa noite fui ao colombo fazer uma compra e a farmácia estava com os alarmes avariados que não paravam de apitar deveras irritante e eu comentei com o empregado que nem numa manif a tarde toda tinha sido tão irritante como aquele barulho ao que ele me responde: Ah!Então era você que andava a empatar o trânsito hoje à tarde), estamos então perante um desafio de liberdades e escolhas. Temos a balança, num lado os utentes dos serviços, do outro o patronato, se o primeiro prato da balança já tá explicado, falta-nos sermos objectivos e pensar no outro, ninguém por seu perfeito juízo vai despedir um funcionário por fazer greve mas pode incomodar muito a vida laboral do mesmo com manhas cada vez mais astutas.
No meu caso pessoal tinha de fazer uma escolha, sentia-me no total direito de me manisfestar, de passar das palavras aos actos (sim, porque se a maioria das pessoas que encontramos na rua que se queixam juntassem a sua voz e presença aos outros em vez de serem peixinhos desordeiros e nadando contra a corrente certamente seriamos mais ouvidos, mais respeitados. Deixando de uma vez a hipocrisia de falarmos de lado e por trás em vez de assumirmos o que queremos como povo e nação.) por outro tinha a corda ao pescoço a nivel laboral. Depois de muito jogo de bastidores, com muitos avanços e recuos houve fumo branco. O meu horário de trabalho dava para ir à manifestação e voltar a trabalhar e assim foi fiz a maratona num dia.
Cheguei ao encontro dos outros manifestantes, primeiro a escolha dos tambores, depois a ida para o autocarro, esperar os outros porque não os deixavam sair da escola para a manifestação (mas eles vieram com a sua força de vontade). Depois iniciamos viagem, deixamos os mais idosos, que não podiam andar mas a sua motivação era mais forte, na Assembleia da República, depois nós fomos deixados na Av. da Liberdade e os outros seguiram para o Saldanha. Quando começamos a descer a Av. da Liberdade para encabeçar uma das alas da Manif, o espírito começou apoderar-se de todos nós, sentiamo-nos livres e com força para demonstrar o nosso descontentamento a cada batida no tambor. Começamos a treinar as palvras de ordem: Sócrates, escuta, os trabalhadores estão em luta ; Quem luta sempre alcança, queremos a mudança; Entre muitos outros, depois havia que acertar o ritmo dos tambores, a adrenalina estava no máximo, ainda estávamos em compasso de espera antes de arrancarmos e outros manifestantes juntavam-se a nós.
Depois começou a subida até à Assembleia, continuando com as palavras de ordem e as batidas frenéticas dos tambor. Eu que nunca tinha tocado tambor aleijei váriuas vezes as mão por culpa de ser zarolho ... eheheh.
Infelizmente não cheguei à Assembleia fiquei pelo Largo do Rato pois tinha de ir trabalhar ainda, mas antes ainda gritei:-Mentirosos!
Depois conseguir chegar ao local de trabalho foi outra aventura, a cidade estava um caos mas mesmo assim consegui pois provei que fazer greve não é uma questão de gazeta é uma questão de identidade ou posição.
Mas a verdadeira felicidade chegou quando os telejornais invadiram a minha televisão fiz parte da maior Manifestação dos últimos vinte anos. Acho que isso quer dizer qualquer coisa, não?

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito orgulhosa de ti!

Pralaya disse...

Nunca estive numa manifestação... tenho um pouco de medo de estar em confusões com imensa gente.